O câncer de pênis, embora raro, apresenta alta morbidade. A literatura médica sobre o tema é frequentemente fragmentada, dificultando a tomada de decisões clínicas informadas. Este texto visa fornecer uma visão abrangente e atualizada do câncer de pênis, abrangendo alguns tópicos relevantes.
Incidência: Variações geográficas:
* Maior incidência na África, Ásia e América do Sul.
* Menor incidência na Europa e América do Norte.
Tendências temporais:
* Redução da incidência em países desenvolvidos.
* Aumento da incidência em alguns países em desenvolvimento.
Mortalidade:
* Taxas de mortalidade variam de acordo com o país e o acesso ao tratamento.
* Melhora na taxa de sobrevida nos últimos anos.
Fatores de Risco:
Fimose:
* Prevalência de 80-90% em homens com câncer de pênis.
* Aumento do risco de 10 a 20 vezes.
* Recomendação da circuncisão como medida preventiva.
Infecção pelo HPV:
* Presente em 50-60% dos casos de câncer de pênis.
* Associação com os tipos HPV 16 e 18.
* Vacinação contra o HPV como medida preventiva.
Tabagismo:
* Aumento do risco de 20-30%.
* Associação com mutações genéticas.
Baixa higiene peniana:
* Aumento do risco de infecções e inflamações.
* Importância da higiene regular do pênis.
Outros fatores de risco:
* Idade avançada
* Doenças inflamatórias da pele do pênis (balanite, postite)
* Imunossupressão
* Exposição a certos produtos químicos (arsênio, betume)
Genética:
* Alterações genéticas podem predispor ao desenvolvimento do câncer de pênis.
* Mutações nos genes TP53, RB1 e p53 são frequentemente encontradas.
* Estudos de suscetibilidade genética estão em andamento.
Manifestações Clínicas:
Sinais e sintomas:
* Nódulo ou massa peniana
* Mudanças na cor ou textura da pele do pênis
* Sangramento ou dor peniana
* Secreção peniana
* Inchaço dos linfonodos inguinais
Diagnóstico diferencial:
* Balanite
* Postite
* Psoríase
* Líquen escleroso e atrófico
* Condiloma acuminado
Exame físico:
* Inspeção e palpação do pênis e dos linfonodos inguinais.
Exames laboratoriais:
* Biópsia incisional ou excisional para confirmar o diagnóstico.
* Imunohistoquímica para determinar o tipo de tumor.
Exames de imagem:
* Ultrassonografia peniana e inguinal para avaliar a extensão do tumor.
* Tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) para avaliar a presença de metástases à distância.
Tratamentos:
Penectomia parcial:
* Circuncisão: remoção do prepúcio.
* Glandectomia: remoção da glande.
* Indicada para tumores pequenos e superficialmente invasivos.
Penectomia total:
* Remoção total do pênis.
* Indicada para tumores invasivos ou com metástases inguinais.
Linfadenectomia inguinal:
* Remoção dos linfonodos inguinais para prevenir metástases.
* Indicada para tumores invasivos ou com linfonodos inguinais
Tipos de linfadenectomia inguinal:
* Dissecção inguinal superficial: remoção dos linfonodos superficiais.
* Dissecção ilioinguinal: remoção dos linfonodos superficiais e profundos.
* A escolha do tipo depende do estágio do tumor.
Radioterapia:
* Utilizada como tratamento adjuvante (após a cirurgia) em alguns casos.
* Pode ser utilizada como tratamento paliativo para controle de sintomas.
Quimioterapia:
* Geralmente não é usada como tratamento primário.
* Pode ser utilizada em casos avançados ou metastáticos.
Cuidados paliativos:
* Importantes para o controle de sintomas e melhora da qualidade de vida em pacientes com doença avançada.
Resultados do Tratamento: A taxa de sobrevida em cinco anos depende do estágio do tumor no diagnóstico.
Tumores iniciais:
* Taxas de cura acima de 90% com cirurgia parcial.
Tumores invasivos:
* Taxas de cura em torno de 70% com cirurgia e linfadenectomia inguinal.
Tumores metastáticos:
* Taxas de cura baixas, mas o tratamento pode prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida.
Efeitos Colaterais do Tratamento:
Cirurgia:
* Sangramento
* Infecção
* Incontinência urinária
* Disfunção erétil
* Perda da sensibilidade peniana
* Alterações na imagem corporal
Radioterapia:
* Irritação da pele
* Fadiga
* Diarreia
Quimioterapia:
* Náuseas e vômitos
* Queda de cabelo
* Fadiga
* Supressão da medula óssea
Prevenção:
Circuncisão neonatal:
* Reduz drasticamente o risco de câncer de pênis.
* Recomendação por diversas organizações de saúde.
Vacinação contra o HPV:
* Vacinação de meninos e meninas pode prevenir a infecção pelo HPV e consequentemente reduzir o risco de câncer de pênis.
Boa higiene peniana:
* Limpeza regular do pênis com água e sabão neutro.
* Retração do prepúcio para remover o esmegma e sujidades.
**10. Evidências e Graus de Recomendação:**
Discussão:
* O câncer de pênis é uma doença rara, mas potencialmente devastadora.
* O diagnóstico precoce é fundamental para a cura.
* A cirurgia é o tratamento principal, com opções de cirurgia parcial ou total.
* O tratamento pode causar efeitos colaterais significativos, sendo importante a individualização e o suporte ao paciente.
* A prevenção por meio da circuncisão neonatal e vacinação contra o HPV é fundamental para reduzir a incidência da doença.
Conclusão: O câncer de pênis requer uma abordagem e diagnóstico precoce para melhores resultados. É importante manter uma visão atualizada sobre as causas, fatores de risco, diagnóstico, tratamento e prevenção do câncer de pênis. A cirurgia continua sendo o pilar do tratamento, com opções para preservar a função sexual sempre que possível. A prevenção pela circuncisão neonatal, boa higiene peniana e vacinação contra o HPV oferecem a melhor estratégia para reduzir a incidência desse câncer.
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